Quando eu era criança, pequena mesmo, minha família vivia passeando de perua kombe (ai, ai). Era o veículo ideal pra sete pessoas e, além disso, meu pai tinha o armazém e, nessa época, pessoas das fazendas próximas vinham fazer compras grandes e meu pai precisava ir (geralmente no final de semana) entregar as despesas. Como os supermercados fazem hoje. Era um pretexto pra gente ir junto, era um passeio.
O armazém do meu pai era daqueles à moda antiga, com a sacaria no chão (sacos de arroz, feijão, farinha, milho... sacos de 60 quilos). As pessoas compravam por quilo e, não havia supermercados com os preços de hoje para fazer concorrência com os estabelecimentos pequenos.
Comprava-se de tudo nos armazéns: comida, armarinho, produtos de limpeza e higiene, materiais elétricos, etc. Era engraçado achar de tudo (tudo mesmo) lá. Podia ser um cachimbo de barro ou um cabo de enxada. Podia ser um camisinha de lampião ou até uma camisetinha da Sulfabril.
Nos finais de semana meu pai lotava a perua e íamos entregar as despesas em várias fazendas nas redondezas. Muitas estradas eram de terra, cheias de buraco mas, era um passeio. Nunca vou me esquecer da "Shirla"... na verdade, o nome daquela cachorrinha feinha era Shirley mas, aquela senhora tão rude e simples não conseguia pronunciar assim. Ficou Shirla. Era uma fox/vira-lata que corria atrás da gente pra morder nosso calcanhar. Ela foi nossa por um cruto período e, depois que deu cria, dez cachorrinhos, ela foi doada (com cria e tudo). Assim, quando íamos entregar as compras daquela senhora, matávamos a saudade da "Shirla".
Minha primeira lembrança disso tudo é de quando eu tinha uns 3 ou 4 anos... no colo da minha mãe, no banco da frente da perua, desbravando aquelas terras quase sem interferência humana. Eu estava sempre de vestidinho e me lembro perfeitamente da sensação do corpo balançando em cada buraco da estrada.
Era legal, era divertido, era um clima de família que me dá saudades.
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