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quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Pasto do Vieira

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Moro numa cidade de interior que, como a grande maioria das cidades pequenas, cresceu e cresceu. Me lembro de como ela era trinta anos atrás e sinto saudades. Onde tínhamos tanto verde agora temos cimento. Parece ser o caminho natural das coisas, esse desenvolvimento desenfreado que passa por cima de tudo que é vivo em detrimento do progresso.

Enfim, está tudo muito diferente mas ainda podemos ver os sinais de uma cidade que ainda reluta, aqui e ali , em deixar para trás a natureza e os velhos costumes.

Da janela de um dos quartos, o dos fundos, posso ver uma 'montanha' onde casas estão sendo construídas tornando-se, dia após dia, um bairro residencial. Essa mesma montanha, 35 anos atrás era um pasto, o Pasto do Vieira (claro que Vieira era o dono das terras onde ficava o pasto). Não sei se o pessoal da cidade grande compreende exatamente o que é um pasto, aquele lugar forrado de grama e outros matinhos onde as vacas ficam 'pastando'. Simples assim. Nessa época eu via vacas e muito, muito verde lá.

Então, sobre o pasto: Eu ainda era pequenininha, a caçula de cinco irmãos. A mais nova (acima de mim) era cinco anos mais velha que eu. Essa diferença de idade me criou alguns problemas já que nenhum deles queria brincar comigo, sendo eu tão mais novinha. Enquanto minha irmã tinha 10 anos eu ainda tinha 5 tornando a brincadeira um martírio, tanto para mim como para ela. Me lembro até hoje de ouvir ela gritando pra minha mãe: "- Mãããããeeee, olha a Cintiaaaaaa!" - Era eu, tentando participar de alguma brincadeira que não era pra minha idade.

Assim, o que posso contar do pasto é uma mistura entre minhas lembranças e as lembranças dos meus irmãos que, de tanto ouvir parece que já faz parte das minhas. Sabe quando você ouve vezes e vezes uma história e depois de um tempo, você acha que estava lá? É assim.

O pasto era um lugar onde a meninada ia pra... pra qualquer coisa, conversar, brincar e rolar (literalmente). Como era um declive de grama, era só deitar e rolar morro abaixo. Super divertido se não contar os obstáculos - como uma prima minha que certa vez rolou por cima do estrume das vacas, vulgo 'cocô de vaca'. Rendeu boas gargalhadas enquanto a coitada voltava pra casa com a roupa suja e recendendo o cheiro característico.

Anos depois, eu já era uma mocinha. Então, virei tia. Minha sobrinha era deslumbrantemente linda e eu, tia de primeira viagem, me desdobrava em carinhos e cuidados. Então, eu levava ela no quintal e sentávamos na escada. Era uma escada grande com uns 20 degraus. O terreno do quintal era um declive também. Para que possam visualizar melhor, moro no topo de uma 'montanha' também. Há um vale entre a minha casa e o pasto. O quintal então, era uma descidona com rampas, escadas e alguns planos pelo meio.

Na escada, eu e ela ficávamos sentadinhas apreciando o pasto, tão verde e tão bonito. Então, pegávamos folhas nos pés de laranja e limão ali perto e jogávamos escada abaixo. No momento em que as folhas tocavam no chão, usávamos toda a nossa conhecimento 'onomatopéico' e simulávamos uma grande explosão! Eram as folhas explodindo!

Depois, olhavamos longamente para o pasto e gritávamos, bem alto! E pronto, estávamos leves e felizes. Foi um tempo bom que me traz sentimentos muito bons. Naquela época ela era apenas uma menininha de seus 4 ou 5 anos. Mas nos entendíamos, completamente. (Te amo, Nãna.)
Tempo bom! Obrigada, 'seu' Vieira por tudo que seu pasto nos proporcionou.

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