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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Noite de uma mulher triste

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A noite estava fresca e já começava a ventar. A rua estava calma. Ela dirigia a esmo pelas ruas à procura de um refúgio para seu coração tão ferido. As palavras bruscas da última discussão ainda ecoavam em seus ouvidos. Não tinha para onde ir e continuou apenas dirigindo.
Após quase meia-hora passou por uma lanchonete conhecida. Era tarde e não havia comido nada no jantar. Não havia tido jantar, na verdade.
Resolveu comer um lanche ali mesmo. Passaria o tempo e talvez a ajudasse a pensar melhor em tudo que estava acontecendo.
Desceu do carro e percebeu que o vento estava mais forte e muito mais frio. Vestiu o agasalho e caminhou para a lanchonete com passos inseguros. Sua roupa não era adequada mas não tinha como mudar agora. Sentia-se muito feia e deselegante. Lá dentro o clima estava muito melhor. As pessoas comiam e conversavam alegres e alheias a sua angústia.
A fila estava longa e demorou a chegar ao caixa. Quando finalmente fez seu pedido resolveu que levaria o lanche para viagem. Tinha se lembrado da manhã do mesmo dia, quando quase havia engolido um pivô que estava frouxo. Recolocou no lugar mas sabia que estava frágil e poderia cair novamente a qualquer momento. Imaginou que, comendo o lanche dentro da lanchonete corria um sério risco de ter seu pivô encravado no pão enquanto as pessoas a olhariam como se fosse um alien.
Quando saiu para a noite fria com seu lanche num saquinho percebeu que teria que comer dentro do carro. Ajeitou-se o melhor que pôde no banco do carro e agradeceu por estar de costas para a lanchonete. Assim não chamaria a atenção de ninguém.
Deu a primeira mordida com cuidado para não forçar o pivô. O lanche que sempre gostara parecia agora sem gosto. Mastigou devagar e conseguiu chegar na metade do lanche mas, mais de uma vez teve que disfarçar e esconder o lanche para que pessoas que passavam não percebem o ridículo da situação. O que pensariam de uma mulher que compra um lanche para comer dentro do carro, no estacionamento da lanchonete que oferece mesas e conforto? Sentiu-se muito só, triste e deprimida.
Finalmente sentiu que não conseguiria mais comer e resolveu ir embora. Mas, embora para onde? Pensou um pouco e percebeu que teria que voltar para casa e enfrentar as pessoas que a haviam ofendido com tanta rispidez. Deu um suspiro resignado e ligou o carro, resoluta. Sentiu-se uma verdadeira idiota, sentindo que seu rompante de sair de casa após a briga não havia trazido nenhum conforto.
Suspirou novamente pensando que muitas vezes, só havia esta opção: suspirar e seguir em frente. E foi o que fez.

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