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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O tempo

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“Alguma vez se preocuparam com a vossa memória, por dar a impressão de não vos estar a fornecer precisamente a mesma imagem do passado, de um dia para o outro? Alguma vez tiveram receio de que a vossa personalidade estivesse a alterar-se, por causa de forças para além do vosso conhecimento ou do vosso controlo? Alguma vez se sentiram certos de que a morte súbita estava prestes a saltar sobre vós, vinda de nenhures? Alguma vez foram assustados por fantasmas, não do género daqueles que figuram nos livros de histórias, mas sim os biliões de seres que foram, em tempos, tão reais que nos é difícil acreditar que para sempre se conservarão inofensivamente adormecidos? (…) Alguma vez pensaram que o Universo pode não passar de um sonho louco e confuso?”
Do livro "O Tempo, O Espaço e o Cérebro", versão portuguesa de The Big Time, obra máxima de Fritz Leiber, (o qual foi bastante inspirado pelos trabalhos de Carl Jung).

O tempo é um conceito inventado pelo homem e, muito embora a medicina já tenha se rendido ao fato de termos um "relógio biológico" muito bem guardado lá no fundo de nós, é uma das formas mais cruéis de escravidão já inventada em todos os tempos.

Mas o tempo tem seus cruéis aliados: a tecnologia, a sede pelo poder e a busca pelo "ter". Os animais, por exemplo, não ligam muito para isso (novamente tenho que lembrar do "relógio biológico presente em praticamente todos os seres vivos). Eles vivem o momento, alheios ao relógio. Seria muito bom que o homem, sendo um ser pensante, respeitasse o relógio biológico como os animais. Só isso já seria suficiente para que o tempo "inventado" perdesse seu posto e o equilíbrio fosse alcançado. Basta lembrar que neste caso, dormiríamos cedo - o suficiente para nosso corpo recuperar as energias gastas durante o dia. Comeríamos durante todo o dia, sempre que tivéssemos fome. Mas seriam pequenas porções, apenas o suficiente para conter a fome. Trabalharíamos durante um terço do dia para que pudéssemos ter também o lazer. Seria mais fácil para todos.

Tenho ouvido de muita gente (inclusive de mim) frases do tipo: "Ah, não tenho tido tempo pra nada!" E assim muita coisa importante em nossas vidas - família, amigos, lazer, exercícios, etc, etc, etc - vão ficando para segundo plano, em detrimento do "tempo" que é cada vez mais curto, embora os dias continuem tendo vinte e quatro horas. A busca incessante por dinheiro e poder tem devorado nossas oportunidades assim que elas se apresentam, algumas das quais nunca mais voltarão. Pode ser uma viagem, um amigo que se perde, um parente que nunca mais você poderá abraçar.

Acredito que a perfeita gestão do tempo exija que sejamos mais realistas sobre nossos prazos e possibilidades. Mais que isso, o equilíbrio individual na vida de cada um, assim como os valores aos quais cada um privilegia.

O conceito de tempo é um dos mais difíceis de ser dado já que cada um "entende" o tempo de uma maneira diferente. Desde os primórdios da humanidade, filósofos, matemáticos, físicos, astrônomos, etc definem o tempo de maneira até tendenciosa em relação a sua ciência.

Nós, os leigos, os meros humanos sem ciência alguma, vivemos o tempo, sem conceito ou definição. Lutamos com ele, travamos verdadeiras batalhas diárias tentando esticá-lo e multiplicá-lo. Usamos, desperdiçamos, aproveitamos, ganhamos ou perdemos tempo. Queremos que passe mais devagar. Ou mais depressa. Em alguns momentos, gostaríamos que ele simplesmente parasse.

E o tempo, incomensurável e impiedoso, simplesmente passa... e não volta mais!

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