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domingo, 17 de dezembro de 2006

Carência

Acordei hoje com a sensação de estar vendo o mesmo filme de tantos anos atrás, tudo de novo. Quando eu era adolescente deixei-me enganar (como tantos outros adolescentes) pela carência afetiva que sentia, transferindo a necessidade de carinho e afeição pela aprovação de pessoas que simplesmente mal sabiam que eu existia.

Honestamente não sei por que eu me sentia assim, carente. Meus pais não me rejeitaram, me tratavam bem e, com minha mãe, sempre tive apoio e carinho de monte. Até quando não devia. Até quando merecia uma boa bronca, recebi compreensão e amor.

Mas faltava aquele "algo" que falta na vida da gente quando se é adolescente. Sentir-se amado, desejado, querido, procurado, preferido... às vezes chego a pensar que, algumas vezes, confundi tanto os sentimentos, que cheguei a fazer papel de idiota em relacionamentos sem nenhum valor, sem nenhum futuro.

Hoje vejo isso acontecendo de novo. Bem debaixo do meu nariz. E não sei como ajudar, mesmo! Me sinto de mãos atadas, sem saber exatamente onde me colocar numa situação em que já estive dentro e agora sou espectadora.

Na adolescência, os amigos são tudo! Por eles, vamos à lugares que não iríamos. Falamos o que não falaríamos. Entregamo-nos à essa amizade que pode não nos dar o retorno que necessitamos, que gostaríamos.

E, quando vem a decepção, o tombo... ah, é tão doloroso! É tão sofrido o momento em que percebemos que a entrega foi em vão. Que, ao expor nossas fraquezas, tornamo-nos frágeis e alvos de flechas afiadas que vão direto ao coração, que nos machucam e nos arrebatam.

O carinho. Carinho vem de dentro... e quando precisamos dele, nem sempre estamos oferencendo carinho também. Muitas vezes, usamos a agressividade para compensar a falta dele e acabamos afastando mais e mais qualquer possibilidade de recebermos o que tanto nos faz falta.

O amor. Tão futilizado hoje em dia. Tão confundido. Tão difundido mas sem orientação alguma. "Eu amo você" ou "eu te amo"... fácil. Não era fácil assim há tempos atrás. Era algo que não se dizia assim, corriqueiramente como se diz hoje. Amar um amigo é realmente bom, e sim, devemos dizer antes que seja tarde mas, devemos pensar bem antes de proferir essas palavras que carregam em si tanta intensidade e, uma arte preciosa do nosso coração.

Sim, eu amo meus amigos (os de verdade). Amo minha família (apesar de tudo o que aconteça e das tantas desavenças). Amo minha cachorrinha (um amor puro e tranquilo). Amo meus filhos de uma maneira absurda (chega a doer algumas vezes). Mas, estou esquecendo de algo, não? E eu? Será que não tenho esquecido de dizer a mim mesma o quanto me amo? Ou ainda, será que tenho me amado? É aí que mora todo o conflito, no amor-próprio.

Então, eu pergunto: Não será desse amor amor a carência que envolve os adolescentes já tão bonbardeados pelos hormônios e pela avalanche de sentimentos e emoções? Não será esse amor que falta, em detrimento da atenção que é cobrada pelo mundo de hoje, do imediatismo, do recado rápido e incompleto, nas mensagens digitadas no silêncio de cada um?

A carência, na verdade, é de nosso prórpio amor... de nossa atenção aos próprios sentimentos e emoções. Sem saber, acabamos dividindo nossa dedicação a tudo e a todos, menos para nós mesmos.

Amar a si mesmo!
Dar atenção àquela voz que grita dentro de nós!
Criar laços com nosso EU!
Atender às nossas necessidades emocionais!

Podemos começar daí. :)

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