Páginas

sábado, 30 de junho de 2007

O Bolo de Amélia

Read this post in English
Todas as tardes ela preparava um bolo, bem fofinho e gostoso. Cada dia de um sabor: cenoura, banana, baunilha, chocolate, laranja, e tantos outros. Todas as tardes ela se sentava à mesa, com o bolo bem no meio da mesa e a garrafa térmica cheia de café - doce, forte e encorpado - como ele gostava. E ali ela ficava, por horas, esperando que ele entrasse pela porta dos fundos e lhe dissesse o quanto havia sentido saudades. Ele lhe puxaria pela mão e lhe daria um grande abraço, murmurando palavras doces em seu ouvido, repetindo mil vezes que a amava muito e o quanto ansiara por este momento. Então, com lágrimas nos olhos, eles se olhariam por alguns segundos, como se mais nada existisse e, finalmente, selariam o reencontro com um beijo apaixonado. Seria lindo e maravilhoso. Sentariam para comer uma fatia de bolo e tomar várias xícaras de café, enquanto ele lhe contaria tudo o que acontecera e o que o impedira, por tanto tempo, de voltar para casa. Ririam por entre toques suaves nas mãos e no rosto um do outro. Seria um momento único, como um encontro de águas, fundindo-se gradativamente e tornando-se um só. Então, sem nenhuma palavra eles se entreolhariam e, como se não houvesse no mundo mais nada a fazer e iriam para o quarto, onde poderiam fazer amor por horas, de todas as formas que o amor lhes permitisse, terminando por adormecer um nos braços um do outro, com um doce sorriso a dançar em seus lábios e a certeza de que tudo estaria bem agora.

Quando o relógio começou a badalar, contou em silêncio, deu um profundo suspiro e enxugou o canto do olho, onde uma pequena lágrima se formara. A cozinha estava escura, o sol já não entrava pela janela. Sentia-se cansada. Olhou para o bolo ainda inteiro e para as xícaras vazias sobre a mesa. Pegou uma toalha de mesa e cobriu o bolo. Virou as xícaras para baixo. Foi até o quarto, tomou um sonífero, deitou-se na cama e dormiu, como fazia todos os dias, há tanto tempo, sem nunca desistir, sem nunca esmorecer.

Seu nome era Amélia.

8 comentários:

Anônimo disse...

Q lindo!!!
E triste tambem!
Adorei a historia...

**Bjs!**

Red Letters disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Red Letters disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arne Balbinotti disse...

Te indiquei ao prêmio "7 Maravilhas da Blogoesfera"...
A votação encerra hoje e pelo que li do regulamento em algum blog por ai, você não pode me indicar... hahaha...
Corre lá e veja o post.

Zana Queiroz disse...

Amélia que era mulher de verdade!!!bjus adorei!!

Arne Balbinotti disse...

Hum, deprimente, constrangedor, inseguro, pequeno, infertil...
Nossa amei, que texto tudo.
Realmente é bem assim que acontece... parabéns linda, você acabou de contar a história de milhares de coraçoes que nunca esquecem um grande amor (ou saõ psicopatas... hahaha...)
Beijos.

Red Letters disse...

Linda história, como sempre.
Se eu fosse ela comeria todo o bolo pra compensar, rs.

Ana Paula disse...

Triste, né? fiquei com pena dela... Mas lindo, você é uma menina de talento! Beijo!