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domingo, 19 de agosto de 2007

Princesa Ameba - Capítulo X

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A pequena princesa acordou sentindo o peso da realeza. Era muito, era grande demais, era um mundo de obrigações pesando sobre seu corpinho tão frágil, sobre sua mente tão cansada e sobre seu coração tão carente. Demorou alguns instantes tentando organizar as idéias. Teria que lidar com mais um problema agora, mas não sabia como poderia escapar daquele maldito casamento. Queria ter tempo para dedicar-se apenas ao mistério que rondava sua origem mas agora, tinha outras coisas a tomar-lhe a mente, outros problemas a resolver. Ficou deitada por longos minutos apenas pensando, tentando achar uma saída, olhando para os tecidos finos que caíam do dossel de sua cama. Sempre se sentira bem em sua cama, protegida de todo o resto por aquele fino e delicado tecido que adornava seu leito. Logo alguém entraria trazendo seu desjejum. Abriria as cortinas e deixaria a luz do sol banhar todo o quarto. Talvez abrisse também as janelas, se o tempo estivesse calmo, e a brisa da manhã entraria e balançaria levemente a organza ao seu redor. Então, ela estenderia os braços e as pernas, languidamente, bocejando e piscando os olhos, preparando-se para um novo dia. De repente, como um raio, lhe veio a lembrança daquela voz no jardim. Sentou-se abruptamente, seus olhos percorrendo todo o quarto, como se ali pudesse encontrar alguma resposta. Mas seus olhos não enxergavam o quarto. Apenas passeavam nos móveis enquanto seu cérebro corria em busca de cada detalhe que estivesse gravado em sua memória. Sorriu para si mesma quando se lembrou das palavras delicadas e do tom cuidadoso daquele que não tinha nome e nem rosto, apenas voz.

Sentiu que tinha informações demais para administrar. Resolveu tomar um longo banho de banheira para que a água fresca pudesse limpar-lhe a alma e o coração, como sempre acontecia. Tinha uma relação íntima com a água e com ela, sentia-se à vontade e tranqüila. Ficou então imersa até a água quase esfriar. Conseguiu finalmente clarear um pouco a mente e seu desjejum transcorreu muito melhor do que nos últimos dias.

Quando se sentiu satisfeita, levantou-se da mesa e, quase sem pensar, dirigiu-se ao jardim. Desta vez, não se sentou. Decidiu apenas caminhar, sentindo um fio de esperança que lhe dizia que poderia encontrar novamente o dono da voz misteriosa. A cada som, virava-se e olhava atentamente por entre as folhagens e flores de tantas cores a fim de detectar a origem, mas, apenas pássaros e esquilos lhe faziam companhia. Logo seus pés estavam cansados e seus pensamentos voltavam a lhe perturbar. Tinha agora três desafios! Não sabia por onde começar. Resolveu então voltar à biblioteca. Quem sabe se lá poderia ter alguma idéia de como evitar aquele casamento inusitado e não desejado.

Chegando lá, procurou por Theodore, mas não o encontrou. Vagou por entre as estantes e as poltronas de veludo vermelho até de deparar com o cantinho de que menos se interessava da biblioteca, o de história. Lembrou-se do dia em que Theodore separara-lhe os livros a seu pedido. Depois lembrou-se das sensações estranhas em relação a ele e depois do desmaio. Tudo foi voltando, resgatado de sua mente confusa. Achou melhor tentar distrair-se desses pensamentos ou ficaria louca. Seguiu as prateleiras olhando as lombadas de cada livro e percebeu que ainda havia uma grande quantidade numa altura em que precisaria de um apoio para subir. Pegou uma banqueta e subiu, mas percebeu que não era suficiente. Começou então a procurar uma escada. Deveria haver uma em algum lugar. Avistou então o biombo de veludo vermelho. Sim, poderia estar ocultando uma escada, por que não? Foi até ele e tocou os dedos no tecido macio e bonito. Percebeu que teria que puxá-lo para o lado ou não teria acesso ao que estaria atrás dele. Tentou movê-lo para um lado mas não conseguiu. Tentou então para o outro lado, mas era muito pesado. Estranho, não parecia pesado. Se não fosse ridículo acharia que estava pregado no chão. Procurou por uma trava ou algo parecido que pudesse soltá-lo, que permitisse que se movesse. Então, numa das dobras do tecido encontrou uma saliência. Apertou e empurrou para o lado, entretanto nada aconteceu. Tentou então tentar puxar aquilo que parecia ser uma pequenina maçaneta. Nada aconteceu. Ficou ali olhando para a saliência e, como se fosse a coisa mais óbvia a pensar, lhe ocorreu que maçanetas são feitas para ser giradas. Nervosa, pegou a pequena saliência com dificuldade e girou, lentamente, como numa porta. Ouviu um clique, apenas um pequeno clique. Desta vez o biombo se moveu. Precisou fazer força mas continuou, animada pela idéia de ter decifrado um enigma, embora pequeno. Centímetro a centímetro, foi movendo o biombo até que achou já ter conseguido uma abertura suficiente para pelo menos olhar atrás dele. Decepcionada, não viu coisa alguma, nenhuma escada ou móvel... Apenas uma pequena porta. Mas, o que seria aquela portinha ali escondida por detrás de um biombo misterioso com uma maçaneta oculta? O que haveria além daquela porta? A abertura que havia conseguido não era suficiente para atravessar, apenas para espiar. Recomeçou então o difícil trabalho para mover o biombo. Ficou ali por quase uma hora e a abertura ainda não era suficiente. Decidiu descansar um pouco e sentou-se, desajeitadamente em uma das poltronas próximas. Cochilou de tão cansada. Quando despertou momentos depois, percebeu desolada que o biombo havia retornado quase à posição inicial. No tempo em que estivera cochilando, alguém ou alguma coisa fizera o biombo fechar a entrada novamente. Ficou ali parada, olhando sem ação por alguns momentos. De repente, percebeu o pequeno movimento do móvel. Era como se tivesse uma mola ou algum mecanismo semelhante. Compreendeu que, se quisesse ter acesso àquela porta, teria que fazer o esforço de uma vez, sem interrupção. Quase chorou, mas estava decidida em descobrir mais este mistério. Levantou-se e, ao dirigir-se ao biombo, esbarrou a perna numa banqueta. Veio-lhe então a idéia de calçar o espaço já aberto com a mesma. Assim, poderia descansar e retornar. Incentivada pela ótima idéia, decidiu voltar ao trabalho, contente pela própria esperteza. Colocou a banqueta no espaço e foi até a mesinha onde ficava uma jarra de água.

Enquanto sorvia pequenos goles de água fresca, ouviu o som de passos se aproximando da biblioteca e pensou que ninguém deveria saber sobre sua façanha. Ficou alguns segundos sem saber o que fazer e foi o suficiente para que alguém entrasse no recinto. Era uma serviçal, trazendo um recado de sua mãe: deveria ir ter com ela imediatamente para conversar sobre assuntos importantes. Deu um suspiro de puro desânimo, agradeceu e foi ter com a mãe, aquela pessoa estranha que quase não lhe dirigia a palavra se não fosse estritamente necessário.


Continua... aguarde.

Um comentário:

Ana Paula disse...

Nossa, está cada vez mais interessante. Não há um só fio para desenrolar, há vários mistérios! Estou adorando e continuo esperando o próximo! Beijos, linda!